Dubai: o sol como alternativa ao petróleo
Em um mundo que tenta a cada dia encontrar formas de substituir o petróleo como principal fonte de energia, até alguns dos maiores fornecedores mundiais desta matéria-prima começam a se preocupar com energias limpas, fontes renováveis e mercado de créditos de carbono. Os países árabes ainda estão entre os que mais emitem dióxido de carbono em proporção ao seu Produto Interno Bruto (PIB), mas têm planos para mudar esta estatística.
O Catar, dono da maior renda per capita do mundo, obtém quase todas as suas receitas por meio das exportações de gás, assim como a Arábia Saudita em relação ao petróleo. O gás é a principal fonte de energia dos Emirados Árabes Unidos. Mesmo assim, a região investe em projetos verdes.
Já os países árabes que não foram “presenteados” com grandes reservas de petróleo e gás veem nas energias renováveis a solução de parte de seus problemas. É o caso, por exemplo, do Marrocos.
Em 2011, a Autoridade de Água e Energia Elétrica de Dubai criou uma agência, a Dubai Carbon Centre of Excellence (DCCE), para investir dinheiro no aprimoramento da energia solar, no desenvolvimento de lâmpadas mais eficientes e de outros projetos que consumam energia de maneira eficiente. Recentemente, Dubai inaugurou a primeira parte de um parque solar.
Por enquanto, os painéis solares instalados serão capazes de produzir 10 megawatts de energia, mas quando todo o projeto estiver concluído, em 2013, irá gerar mil megawatts de energia. Este parque solar vai ajudar o emirado a atingir a meta de obter 1% da sua energia a partir de fontes renováveis até 2020 e 5% até 2030.
Masdar, uma cidade 100% sustentável
São também os Emirados que investem em um dos mais ambiciosos projetos de desenvolvimento sustentável, a Masdar City, de Abu Dhabi. Quando ficar pronta, em 2016, a cidade de seis quilômetros quadrados de área poderá ser o lar de até 40 mil pessoas e a sede de mais de mil empresas. Localizada a 17 quilômetros da capital do país, a Masdar City será 100% “sustentável”, ou seja, vai gerar toda a energia que consumir a partir de fontes limpas, será livre de carros, terá emissão de carbono zero e irá reutilizar a água que consumida.
A Masdar City (Masdar, em árabe, significa “fonte”) deverá gastar quatro vezes menos energia do que uma cidade “convencional” do mesmo porte. A energia será gerada a partir do sol e com turbinas eólicas instaladas no mar. Parte do projeto já está em funcionamento.
Mesmo com esforços na substituição do petróleo como principal matriz energética, os árabes poderiam estar mais adiantados no desenvolvimento de energias limpas.
Sol
Diretor do Greenpeace International, Sven Teske afirma que as iniciativas de energia renovável dos países árabes, especialmente aqueles que estão no Oriente Médio, ainda é tímida. Um dos motivos, na sua avaliação, é o custo baixo do petróleo. Como a matéria-prima de combustíveis como o diesel e a gasolina existe em abundância, e seu custo para os produtores e consumidores locais é baixo, não parece atraente investir bilhões de dólares em energia renovável. Mas, além do petróleo, a região pode gerar energia renovável farta a um custo baixo.
“Como os recursos de combustível fóssil são tão grandes no Oriente Médio e, portanto, muito baratos para uso doméstico, é muito difícil competir utilizando tecnologias de energias renováveis, a não ser em países sem estes vastos recursos. Entretanto, em um metro quadrado no deserto, o sol entrega a mesma quantidade de energia equivalente a um litro de petróleo. Então, o recurso é tão grande quanto [o petróleo]”, afirma Teske.
Sol é o que não falta nos países árabes. Segundo Teske, a Alemanha é o país mais desenvolvido na obtenção de energia de fontes renováveis. Lá, o sol brilha entre 850 horas e 1.000 horas por ano. Só a Alemanha, afirma o especialista, produz 82 terawatts/hora de energia por ano, o equivalente ao consumo energético dos Emirados. No entanto, enquanto em anos ensolarados a Alemanha não recebe mais do que 1.000 horas de sol, nos Emirados é possível acumular até 2.500 horas no mesmo período com painéis solares.
Por isso, diz Teske, é modesto o plano do governo de Dubai de gerar 5% da sua demanda energética por meio de fontes renováveis até 2030. “Energia 100% renovável para os Emirados em 2030 é possível, pois 5% é pouco. As fontes solar e eólica já são competitivas em muitos países, comparadas com os novos projetos de refinarias de gás ou carvão”, afirma.
Para Teske, não é a falta de dinheiro nem de condições que impedem que um país invista e desenvolva fontes de energia renovável. “A barreira para a revolução energética, no mundo todo, não e nem a falta de tecnologia nem a falta de dinheiro. É a falta de uma boa política para a energia renovável.”
África
Se os países do Oriente Médio podem se dar ao luxo de escolher qual sua principal fonte de energia, o mesmo não ocorre com os árabes do Norte da África. O Marrocos, por exemplo, precisa importar o petróleo e o gás natural que consome. Por isso, está investindo na construção de turbinas eólicas, energia solar e hidrelétricas. Cinco projetos de construção de parque eólicos estão em processo de licitação. Juntos, deverão produzir 850 megawatts de energia. Uma cidade de 1,3 milhão de habitantes demanda, em média, 230 MW. Até 2020, o país pretende gerar 2.000 MW de energia através do vento.
Além do vento, o sol pode ser um aliado. O país tem áreas desertas, o que lhe garante muitas horas de sol e projetos de utilizar a energia solar em seu benefício. Em julho de 2011, a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) concedeu um financiamento de 100 milhões de euros para que a Agência Marroquina de Energia Solar comece a implantar o plano de gerar outros 2.000 MW de energia a partir do sol até 2020.
Até a Europa tem planos de obter energia elétrica por meio do sol que incide sobre o deserto do Saara
O país ainda construiu uma usina termo-solar, que gera energia a partir de gás natural e painéis solares em Aïn Béni Mathar. Dos 420 MW gerados pela planta, aproximadamente 20% vêm do sol. Até a Europa tem planos de obter energia elétrica por meio do sol que incide sobre o deserto do Saara. O principal desafio para este plano, no entanto, é transportar a energia produzida em um continente para outro.
Autor do relatório sobre energias renováveis do Painel das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e atualmente consultor no setor, Smail Khennas afirma que em 2020 os marroquinos deverão obter 42% da sua energia através de fontes renováveis. Desse total, 14% virão de energia solar, 14% de energia eólica e outros 14% de hidrelétricas. No total, as fontes renováveis deverão gerar 6.000 MW de energia aos marroquinos até 2020. Khennas diz que a tendência não se restringe apenas a este país.
“Todos os países árabes estão planejando entrar na energia renovável. Isto é válido para aqueles que produzem petróleo e gás e para aqueles que não os produzem, como o Marrocos, para reduzir a dependência de energia e também por questões econômicas no longo prazo”, diz.
Segundo Khennas, mesmo países onde o custo do petróleo é muito baixo, como a Arábia Saudita, estão investindo em energia renovável. Estes projetos estão mais avançados, no entanto, nos países que precisam comprar petróleo para suprir a demanda.
De acordo com dados da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), dos cerca de 220 mil gigawatts/hora produzidos pela Arábia Saudita em 2009, metade teve como fonte o petróleo. A outra metade foi proveniente do gás natural. Já no Marrocos, dos cerca de 22 mil GW/h de energia produzidos em 2009, aproximadamente 10 mil tiveram o carvão como fonte, outros cinco mil o petróleo, dois mil o gás natural, dois mil as usinas hidrelétricas e menos de 100 GW/h foram provenientes de energias renováveis.
Segundo Khennas, a Argélia também investe nas fontes renováveis, pois pretende obter delas, em 2030, 40% da sua energia. Ainda neste ano, a Companhia Nacional de Eletricidade e Gás (Sonelgaz) deverá lançar um projeto para implantar um parque solar no sul do país capaz de produzir 150 MW de energia. Há também projetos eólicos na Tunísia, Egito e Líbia. No Egito, porém, os distúrbios políticos podem atrasar esses planos.
Fonte: ANBA – Agência de Notícias Brasil-Árabe